terça-feira, 15 de maio de 2007

Pingue-pongue (parte II)

Porquê a esquerda perguntar-se-á? Esquecendo as origens históricas que a fundaram, os seus princípios jacobinos ou girondinos, o que parece poder afirmar-se é uma coisa, a causa gira em torno da invariável tendência para a colectivização, para o pensamento de grupo e desconsideração do indivíduo. O célebre mandamento kantiano do Homem como fim em si mesmo é estranho à esquerda, de uma tal forma que esta se opõe a tudo quanto resulte numa afirmação desse indivíduo, positiva ou negativamente. Exemplo mais claro desta repulsa "leninista" é aquele que vimos de explanar - o do crime e o da sua resposta. Concerteza que os factores sociais influem em muitos desses comportamentos, agora, não menos certo é a responsabilidade de pessoas adultas, responsáveis quer social, quer penalmente e às quais devemos reconhecer, nem que por defeito, capacidades mentais. Ou seja, não podemos desculpabilizar problemas reais, não nos podemos resguardar numa atitude pró-negativa, rejeitando as factualidades que nos atormentam. Sem dúvida alguma que é imperioso combater as causas sociais que incentivem eventuais focos de violência (não somente por causa disso, mas também por isso), contudo não devemos nunca permitir que tal combate nos tolde a razão e nos limite a acção. Sejamos claros, a violência é um mal em si mesmo e como tal deve ser combatida, o meio primordial para combater a violência a jusante é, não tenhamos dúvidas, a repressão, logo é o meio a utilizar. Quanto às "canalhices" a que Sarkozy se referiu há uns meses e que muitos de esquerda dizem ser o reflexo do homem que as proferiu, há sempre algo que parece roçar o ridículo em tais impropérios, quanto mais não seja pelo facto de colarem a quem os "vomita" uma cumplicidade absolutamente inaceitável com os agentes da violência. Então, e recorrendo às sábias palavras de Helena Matos, só me resta perguntar: "...porque custa tanto dizer que são criminosos aqueles (...) que se portam como canalhas? E que como todos os canalhas escolhem para alvos os mais pobres e os mais frágeis?". Não nos esqueçamos que, como bem nota Helena Matos, as grandes vítimas destes actos animalescos são pessoas como qualquer um de nós que, de um momento para o outro vêem o seu carro incendiado, a sua loja vandalizada, sem que ninguém marche por eles, sem que ninguém por eles se indigne. E isto não merece tanta ou mais atenção do que os adjectivos (justamente) utilizados por quem impotentemente assiste ao caos. Não sejamos hipócritas, se há alguém que, ao ver reproduzida esta barbárie, não se indigne e não grite bem mais do que "canalhas", então o seu código de valores está, mais do que desadequado, obsoleto.

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