domingo, 10 de fevereiro de 2008

Nothing but the truth



O programa chama-se "Nada além da verdade", é uma cópia do original americano "Nothing but the truth" e passa as domingos no canal brasileiro SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). Consiste, no seu âmago, em humilhar alguém (ao que parece uma celebridade) suficientemente estúpido que se preste a um teste de detector de mentiras sobre a sua própria vida. Será que o actor X roubou, matou, violou, copiou, etc. À verdade corresponde um prémio em dinheiro.

O que me leva a escrever sobre este mórbido programa, bem ao estilo da televisão sul americana, nem é tanto o conteúdo, nem o ambiente "Big Show SIC", mas antes o protagonista, o apresentador Sílvio Santos.
Supostamente trata-se de uma prestigiada estrela, um apresentador consagrado. Independentemente da valia técnica/artística do mesmo, há um aspecto que me intriga, ou melhor, que me assusta. Este senhor parece ser um ciborgue, metade homem, metade máquina. É que se já é estranho o facto de ele se deslocar com um microfone aparafusado ao peito (ao velho estilo dos vendedores de feira), ainda mais esotérico é o estilo automático, profissional é certo, mas profundamente ensaiado. Parece um daqueles apresentadores dos anos 50, com a voz perfeitamente colocada, sempre sorridente, algo decadente no aspecto. Vocês sabem como é, arranjado por fora, mas aparentemente destroçado por dentro. É como se se tratasse de um autómato que se liga e desliga ao ritmo do programa. No fundo uma personagem criogenicamente preservada e que se tira do frigorífico quando se precisa.

Independentemente dos gostos de cada um, este é um exemplo claro do 3º mundismo dos países que passam os domingos a assistirem a este ópio composto de uma cacofonia de sentidos que mais não pretende do que confundir os que a ele assistem.
Só alguém perdido pode encontrar algo aqui.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

"Príncipe"



4 da tarde, 11 de Fevereiro de 2006, no Café junto ao Palazzo Dei Musei, em Modena. Corriere della Sera nas mãos, tentando praticar o dialecto local e salvá-lo da empedernida pronúncia portuguesa. Na mesa uma chávena com chocolate quente, panna (natas) e uma espécie de smarties como corolário ilógico daquele batido irracional e insensato de calorias.

De repente lembro-me de uma tarefa inadiável e saio disparado. Ao passar defronte à loja dos 300s local algo me chama a atenção e crava os meus sentidos. Volto atrás. É verdade, é mesmo verdade. Lá estão elas, ali, aristocráticas, impondo-se sobre tudo e todo o resto. Na loja há plásticos, geringonças várias, sumos e brinquedos. Mas elas não são como essa rés, a ralé do comércio mundial. Elas elevam-se e reclamam-me. Elas são as bolachas "Príncipe" da empresa Vieira de Castro.

O orgulho de Portugal ali prostrado no meio da plebe, da ralé dos produtos prêt-à-porter.

Foi um choque, um desânimo, mas, ao mesmo tempo, uma alegria encontrar ali um bocadinho de Portugal, nem que fosse na lojinha dos trezentos.
Voltei para casa depressa e mostrei-as e dei-as a provar a todos, estrangeiros e portugueses num exemplo de alma saloia como não há outro.

Enfim feliz.